quinta-feira, 15 de março de 2007

Ouvi-me

"Homens! Sejas de onde fores, quaisquer que sejam tuas opiniões, ouvi-me. Eis tua história tal como acreditei havê-la lido, não nos livros de teus semelhantes, que são mentirosos, mas na natureza que não mente jamais. Tudo o que dela vier será verdadeiro. De falso, nela haverá apenas o que sem querer de meu terei misturado. Os tempos de que vou falar-te, bem longe vão. Como mudaste, daquilo que foste! É, por assim dizer, a vida de tua espécie que te vou descrever, de acordo com as características que recebeste, e que tua educação e teus hábitos puderam alterar, mas não puderam destruir. Há, eu o sinto, uma idade em que o homem individual gostaria que tua espécie houvesse parado. Descontente com teu estado atual, por razões que prometem à tua infeliz posteridade ainda maiores descontentamentos, talvez desejasses retroceder; esse sentimento deve constituir o elogio de teus primeiros antepassados, crítica de teus contemporâneos e o pavor dos que terão a infelicidade de viver depois de ti."

Parágrafo final da introdução do "Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens", de Rousseau. Vai ver eu sou muito louca, mas achei extremamente tocante. Imaginei-o escrevendo isso há muitos anos e penso se passou por sua cabeça que suas palavras chegariam a tantos e a tanto tempo depois. Penso como o que ele disse ainda serve para a nossa e várias outras gerações. Pensei na pequenez do homem, tão orgulhoso de suas conquistas mas tão longe de sua essência... Será que um dia aprenderemos algo?

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