quinta-feira, 1 de março de 2007

Declaração

Queria ainda ter a inocência
de acreditar piamente nas coisas.
Que o sol nasce para todos
e que esses todos são iguais.
Que o amor é eterno.
Que um dia tudo será diferente.
Que o homem, na essência, é bom.

Mas até o que era concreto
os filósofos me tiraram.
Não existe verde, azul,
não existe eu.
Não existem verdades.

A rosa se abriu
e mostrou coisas tristes.
Minha esperança é golpeada
dia a dia, basta abrir os olhos.
Mas ainda assim não desejo o escuro.
Antes ter a carne ferida porém viva
que o sangue intacto mas aguado.
Desprezo o medo de sofrer.
A vida, não a temos à toa.
De que valeria a música
numa terra de surdos?
Sei que nem tudo é música,
sei que existem sirenes,
tiros, motores, gritos.
Mas se causam dor,
podem causar também ação.
De que adianta seguir a linha,
a fila, o esperado,
a vidinha de sempre,
e deixar a sirene passar?
Para algum lugar ela vai,
e minha inércia me contradiz.

Devo segui-la,
desvendar seus motivos,
entender sua força,
conquistar o seu fim.
Desistir seria o golpe derradeiro,
seria deixar de existir.
Seria-me um coma.

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