sábado, 23 de junho de 2007

Fim da Ocupação

"Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei eternamente teu direito de dizê-las". (Voltaire)

Essa frase foi lembrada por uma colega de sala ontem. Discutíamos a ocupação da reitoria da USP, seus desfechos, o processo todo das assembléias, da greve, da participação ou não dos estudantes...

A ocupação acabou ontem, após 51 dias. Sinceramente: me sinto orgulhosa pela iniciativa dos estudantes. Não fiquei lá com eles, participei de poucas assembléias, de 1 ato apenas, mas tentei acompanhar os acontecimentos e levar a visão dos estudantes para quem eu pudesse. Não acho que fiz nada, aliás, acho que fiz muito pouco, e fico feliz por haver pessoas mais ativas que eu, que dão a cara a tapa, que fazem certas coisas acontecerem.

E o que aconteceu?

Para começar, uma revitalização desse espírito de ação estudantil. Como disseram ontem em sala, "muita gente estava lá desvinculada de qualquer ideologia política ou outra, mas para defender o que achava correto". Houve uma certa integração entre pessoas muito diferentes em pró de algo maior, e isso é uma das coisas de que mais precisamos hoje em dia. É aquela frase que adoro: VER COM OLHOS LIVRES.

Depois, foram alcançados pontos de negociação muito importantes com a reitora: o compromisso de não punir os estudantes, de atender os pedidos relacionados à moradia estudantil, de realizar o congresso da USP, a abertura para construção de uma nova estatuinte. E dessa a USP precisa urgentemente. Uma estatuinte fresca, sem esse autoritarismo e essa falta de participação democrática da atual. Agora o caminho será, eu acredito, prioriariamente em direção à discussão sobre ela.

Mas algo muito deprimente também foi visto. A parcialidade total de grande parte dos meios de comunicação na cobertura dos acontecimentos. Posso dizer que provavelmente todas as pessoas que não têm acesso a internet, por exemplo, devem estar achando os estudantes causadores de balbúrdia e caos, sem mais o que fazer a não ser depredar um patrimônio público e desrespeitar autoridades. Triste, triste... Quanta gente desinformada... Como é difícil ter acesso aos fatos, e não às idéias sobre os fatos. Não queria que as pessoas necessariamente ficassem ao lado dos estudantes, mas que pelo menos pensassem e escolhessem baseadas em informações reais. Foi ridícula a cobertura da grande mídia, foi enojante.

Disso tudo, meu aprendizado foi, como falei em um outro post, sobre a dificuldade de mobilização de uma massa, sobre a falta de compromisso ético da mídia nacional, sobre a força que temos quando unidos e sobre (ainda bem) não deixar de acreditar que podemos mudar o que não concordamos.

Já que comecei citando um filósofo, vou terminar com outro. Rousseau já dizia que "tudo que o homem construiu o homem é capaz de destruir".

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