quarta-feira, 25 de abril de 2007

Marajá Mac

Quem vai dizer que a globalização homogeiniza tudo sem dó nem piedade? Bom, é claro que estamos ficando mais parecidos uns com os outros ao redor do mundo, mas esse processo gera peculiaridades impagáveis, como o "Marajá Mac". E esse nome?!?!? Fantástico.

Veja a reportagem retirada do Uol:

Big Mac está morto, "namasté" Marajá Mac
(Jordi Joan Baños- Em Nova Déli)


Quem aterrissasse, há alguns dias, na recém-reformada Connaught Place, o centro comercial de Nova Déli, teria visto em concerto uma centena dos tradicionais encantadores de cobras, mas também encontraria todos os ícones da verdadeira fast food americana. O visitante poderia se perguntar se a Índia continua sendo a Índia, mas basta olhar ou inspirar fundo para se convencer de que sim. Aqui cheira a curry. Diz o ditado que a Índia é um estômago tão sólido que foi capaz de digerir todas as influências estrangeiras, transformando-as. E assim Kentucky Fried Chicken, Pizza Hut ou McDonald's tiveram de reformular mais de um terço de seu cardápio para poder sobreviver ao paladar indiano.

Destaca-se o caso peculiar da popular rede de lanchonetes, que teve de modificá-lo para abandonar sua verdadeira razão de ser - a carne de boi - por motivos religiosos. Como se sabe, a vaca é um animal sagrado para os hindus, cinco de cada seis indianos. Embora seja possível comer um bom filé em vários restaurantes ocidentalizados nas grandes cidades - assim como nos bairros muçulmanos e nos restaurantes chineses, que também servem porco -, a rede americana evitou tamanha provocação. O novo amigo americano não quer ressuscitar o antiimperialismo da antiga porta-estandarte dos países não-alinhados. De fato, na terceira cidade indiana e campeã mundial da greve geral, Calcutá, o McDonald's não havia se atrevido a abrir um restaurante até um mês atrás, ao mesmo tempo em que continua ausente da quarta cidade, a conservadora Madras, ou do turístico - e esquerdista - estado de Kerala. Em compensação, Bombaim tem uma vintena de lojas, do total de 108 que a multinacional do hambúrguer abriu em uma década no país das vacas sagradas. Mas em seu cardápio indiano não se encontrará o universal Big Mac, que desapareceu em benefício do Chicken - o Marajá Mac, 100% frango e generoso em especiarias.

Mas a ausência de carne não é a única mudança em seu cardápio. Lá estão o chá de cardamomo, o café com leite frio ou o McCurry Pan, entre uma ampla oferta vegetariana - a maioria dos indianos não come carne -, que inclui sanduíches de batata (McAloo), queijo (McPaneer) ou verduras (VegSurprise). Além disso, os produtos vegetarianos e não-vegetarianos são separados e identificados com cores diferentes. Um erro poderia sair caro, já que a casta dos brâmanes é estritamente vegetariana. A Índia tem efetivamente muito estômago para tudo. A ponto de fazer vista gorda para um dos maiores sacrificadores de vacas - sagradas ou não - do planeta. Embora mais de um amante do Big Mac esteja disposto a se sacrificar depois de ver como a maioria das vacas - sagradas ou não, quase sempre mostrando os ossos - desempenha o muito terreno trabalho de lixeiros das cidades. Preço do McMenu: quase 2 euros, o mesmo que uma refeição num restaurante acima da média. Mas nenhum dos clientes relativamente abastados e de todas as idades e religiões parece protestar por isso, nem tampouco porque a higiene dos lavabos seja, felizmente, mais ocidental que indiana.

No Pizza Hut as receitas indianas têm um distintivo próprio, além de uma ou duas pimentas simbólicas para advertir sobre o grau de picante. Apesar de o inglês ser a única língua escrita nesses restaurantes, há muitas frases em hindi na publicidade - mas em alfabeto latino - e no próprio cardápio que delatam sua origem. Lá estão os espetinhos de kebab, o frango Tikka Makhani, o Malai Seekh Kebab, o Veggie Taka Tana ou o Teekha Paneer Mahani. E se a abundância de coentro e curry não esclarecerem onde você está, dissipe suas dúvidas com a limonada com especiarias, pois a Pizza Exótica é a que tem ingredientes americanos: milho e pimenta mexicana. Se o cardápio mudou, o mesmo ocorreu de alguma forma com as práticas. O McDonald's, por exemplo, entrega comida em domicílio. E se é difícil que os garçons do KFC o deixem devolver as bandejas por sua própria conta, os do Pizza Hut não parecem achar deselegante apressá-lo quando há gente esperando. E do mesmo modo que os hindus tocam campainhas para avisar aos deuses que entram no templo, voltam a tocá-las ao sair da Pizza Hut para demonstrar, como pede um amplo cartaz, que apreciaram.

Por outro lado, se as redes ocidentais se orientalizaram, iniciativas estritamente indianas têm como imagem de marca ser ocidentais. Como a bem-sucedida rede de cafés Barista, inevitável para os jovens modernos, sem concessões ao cheiro de curry. A não ser que a italiana Lavazza, que acaba de comprar a Barista do grupo Sterling Infotech, de Madras, sucumba à mestiçagem. De todo modo, fast food e Ocidente deixaram de andar de mãos dadas na Índia, com o aparecimento da Yo, franquia de comida chinesa por preços chineses.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves Visite o site do La Vanguardia

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