quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Demasiado humanos?

Coisas vindas da leitura cruzada entre "Da natureza humana" (E. Wilson), "Condição pós-moderna" (D. Harvey) e outras fontes mais secundárias.

Até a parte em que cheguei no Da natureza humana, alguns pontos ficaram claros para mim. O autor quer questionar o quanto o comportamento social humano é determinado geneticamente. Sua argumentação está me parecendo muito flexível, ou melhor, "não-radical", na falta de outro termo. Pois ele não chega a dizer que (um exemplo bem fraco, mas...) um filho de assassino também será assassino. Seu caminho é outro – ele fala mais em termos sociais, ou macro-sociais, com indícios retirado de estudo de populações, e não tanto de casos individuais e específicos.

Wilson leva adiante – seguindo o pensamento evolucionista de que partimos de uma origem comum a outras espécies, como macacos e chipanzés – comparações entre seres humanos e outras categorias de animais e mostra evidências de características de comportamento social compartilhadas. Ele diz, por exemplo (WILSON, E.. Da natureza humana. Ed. da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1981, pág. 20.):

- nossos grupamentos sociais íntimos reúnem entre dez e cem adultos; jamais dois, como na maioria das aves e sagüis, ou até milhares, como em muitas espécies de peixes;

- os machos são maiores que as fêmeas (há um uma série de informações sobre esse aspecto...);

- os jovens são moldados (não seria melhor dizer educados? hehe) através de um longo período de treinamento social, primeiro com a mãe, depois, em grau crescente, com outras crianças da mesma idade e sexo;

- o jogo social é uma atividade fortemente desenvolvida, incluindo a prática dos papéis sociais, a agressão simulada, a prática sexual e a exploração.

Fazendo também comparações com outros mamíferos, ele defende que alguns dos sinais usados para organizar o comportamento podem ser derivados dos costumes ancestrais ainda exibidos por macacos do Velho Mundo (seria Ásia?? África??) e pelos grandes símios. A expressão de medo, o sorriso, e até a gargalhada encontram paralelos nas expressões faciais dos chimpanzés – sendo que esses também demonstram, ainda que em grau muitíssimo menor que a nossa, uma capacidade de comunicação simbólica. Nós, humanos, somos seres de comportamento basicamente simbólico.

Onde quero chegar? Bem, acredito, sim, que parte do que somos vem de nosso lado animal. Temos o costume de esquecer dessa origem, dessa nossa natureza, que nos deixou, certamente, heranças comportamentais. Não estou sendo determinista, mas acredito que o comportamento social humano é resultado de uma mescla entre genética (comportamento de espécie) e cultura. Só não sei o peso de cada um no fim das contas...

Depois disso tudo, e percebendo a natureza ao redor, o que me questiono é se estamos ficando mais ou menos humanos com o passar dos tempos. O que seria "humano"? Se encararmos humano como "não-animal", tudo o que nos afasta dos comportamentos animais seria, então, "humanizante". Bem, não percebo em animais (e talvez menos ainda em nossos "parentes" primatas e mamíferos), pelo menos não em um grau tão elevado como em nossa sociedade, a exploração, o assassinato, o individualismo, o egoísmo exacerbado, a corrupção, a desonestidade... Talvez assim estejamos nos humanizando, não? Ao agir seguindo essas condutas tão pouco praticadas na natureza... Não seria melhor, então, sermos mais animais do que humanos? Não seria melhor nos "desumanizarmos" um pouco? É claro que existe a parte ruim de cada espécie, a dose de maldade em um ou outro indivíduo etc. Mas quem presta atenção no mundo natural sabe que há "regras" que inexplicavelmente harmonizam tudo no fim das contas. Basta analisar uma cadeia alimentar qualquer: tudo bonitinho, funcionando – ciclos com altos e baixos de predaores e prezas, alimento disponível, território necessário etc. Até que uma ação humana interfira.

Não sei se consegui expressar tudo o que se passa em minha mente quando uno todos esses conceitos e fico pensando... Mas me pergunto se não é o caso de deixarmos de ser tão humanos, demasiado humanos (ainda lerei o livro de Nietzsche), voltar mais a nossa parte animal... Quem sabe assim consigamos nos enquadrar na harmonia natural que flui quando paramos de impor nossa humanidade por aí.

Nenhum comentário: