sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Faz tempo

Faz tempo que não escrevo. Não sei porque, mas de repente aquela necessidade quase fisiológica de escrever se pulverizou. E de quase posts diários me veio uma vontade de só viver, sem falar muito sobre isso. Pode ser uma fase, pode ser uma nova natureza... Acredito mesmo que em algum momento quererei escrever muito e mais e mais novamente. Mas ainda não. Hoje estou só vivendo. As palavras continuam na minha mente, mas não têm vontade de sair, ainda.


(abaixo, texto da Clarice enviado por um grande amigo - achei perfeito para hoje)

Sobre a Escrita...
(Clarice Lispector)

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases?
A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la.
Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade.
A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia.
Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço,
mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro
dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável
por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo -
é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso?
Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra,
talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada.
Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente
me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra,
só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco
de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento
sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.
Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano
e que o uso da palavra falada e escrita são como a música,
duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos,
do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse
ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade
ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas.
Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor
acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial.
Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser
o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.

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