Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora ou senhorio
Felino, não reconhecerás

É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento...
Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei
Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo...
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei...
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos...
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto...
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver...
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer...
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto...
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver...
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, e ele não vai poder
Me esquecer...
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer...
Sobre a Escrita...
(Clarice Lispector)
Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases?
A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la.
Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade.
A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia.
Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço,
mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro
dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável
por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo -
é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso?
Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra,
talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada.
Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente
me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra,
só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco
de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento
sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo.
Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano
e que o uso da palavra falada e escrita são como a música,
duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos,
do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse
ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade
ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas.
Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor
acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial.
Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser
o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.
Paulo Henrique Amorim
Máximas e Mínimas 606
. Amiga minha, belíssima, por sinal, que está em Nova York, acaba de ler para mim, ao telefone, alguns tópicos da edição da Vanity Fair, de setembro.
. A Vanity Fair diz tudo o que o Brazil – e a mídia conservadora (e golpista) não costuma dizer.
. Vamos lá:
Na capa, Gisele Bundchen.
Tudo o que Hollywood queria ser e não é, o Brazil é.
Vida noturna, música, festas, fun – e sem culpa.
Ao nascer, o brazileiro tem direito à boa vida !
O pobre ao lado do rico.
O cirurgião plástico de manhã levanta a bunda das mulheres e de tarde conserta crianças com lábios leporinos.
Maleável e mais homogêneo e não tão hierárquico: como eles dizem,
todo mundo tem um “pé na cozinha”.
O mundo se divide em peito e bunda – Brazil é a capital mundial da bunda.
Todos nós somos um pouco brazileiros: o Brazil tem a maior população do Japão fora das lojas Prada.
Um presidente praticamente analfabeto, que veio de uma abissal pobreza rural governa um país que tem uma economia de um trilhão de dólares; surplus comercial; que aumentou o salário mínimo de US$ 50 para US$ 300; a inflação desabou e o crescimento está acima de 3%.
Todo mundo olha para a China que é vingativa e tem uma indústria que consome os recursos do mundo.
Olha para a Índia do século XXII, que tem uma infra-estrutura do século XIX e filosofia do século III.
E a Rússia, de coração negro e alma de marzipan, uma sociedade cruel e exploradora.
E ninguém parece prestar atenção ao quarto cavaleiro do futuro, o Brazil.
Que é tão grande quanto os Estados Unidos continental, tem 20% da água do mundo e tudo o que você plantar lá dá.
O Brazil tem uma capacidade de crescimento impressionante.
O Brazil é o segundo time de todo mundo.
Todas as associações que você fizer com o Brazil serão bem sucedidas e sexy: samba, Ipanema, bundas, futebol, floresta amazônica, e bio-fuel - o etanol.
O Brazil pode fornecer energia a metade do mundo, com o etanol.
E quando você entra num bar para tomar suco de frutas, as dez primeiras frutas você conhece. Das outras 12 que você nunca ouviu falar.
O Brazil é os Estados Unidos de 1850.
Com uma música muito melhor.HINO NACIONAL DO BRASIL (ouvir)
I
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
II
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores".
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula
- Paz no futuro e glória no passado.
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
As aves do céu cantam para Ti,
as feras do campo refletem Teu poder...
Quero cantar, quero levantar as minhas mãos a Ti!
ALÔ LIBERDADE (Chico Buarque)
Alô, liberdade
Desculpa eu vir
Assim sem avisar
Mas já era tarde
E os galos tão
Cansados de cantar
Bom dia, alegria
A minha companhia
Vai cantar
Sutil melodia
Pra te acordar
Quem vai querer tocar trombeta
Pem pererém pererém
Pempem
Quem vai querer tocar matraca
Tracatracatraca
Tracatraca
Quem vai de flauta e clarineta
Fi firiri
Firiri fifi
Quem é que vai de prato e facaa
Taca cheque taca
Chequetaca checá
Quem vai querer sair da banda
Pan pararan
Pararan panpan
Hoje a banda sairá
Alô, liberdade
levanta, lava o rosto
Fica em pé
Como é, liberdade ...
Vou ter que requentar
O teu café
Bom dia, alegria
A minha companhia
Vai cantar
Em doce harmonia
Pra te alegrar
Quem vem com a boca no trombone
Pom pororom
pororom pompom
Quem vem com a bossa no pandeiro
Chá carachá
Carachá chachá
E quem toca só toca telefone
Trim tiririm
Tiririm trimtrim
E quem só canta no chuveiro
Trá tralalá
Tralalá lalá
Quem vai querer sair na banda
Pan panpan
Hoje a banda sairá
Laiaralaialaialaiá
Hoje a banda sairá
Olá, liberdade!
A greve e invasão da Reitoria da USP chega a seu final com vitória dos estudantes, funcionários e professores mobilizados pelos interesses públicos da universidade. Fazia tempo que um movimento dessa ordem não conseguia tanta adesão – das três categorias -, tanta repercussão política, tanta simpatia da população e, como resultado, uma vitória tão clara.
Seus participantes diretos estão de parabéns, deram uma lição de mobilização popular, de espírito de defesa da universidade pública, de criatividade de métodos de ação e de capacidade de negociação política – intermediados pela excelente comissão de professores que serviram como facilitadores. A USP, seus professores, estudantes, funcionários, tem que sair muito contentes e incentivados a seguir na organização e na luta pelo fortalecimento do caráter público da USP.
Grande parte das reivindicações internas à USP foram conseguidas, foi freado o projeto do governador de São Paulo para violar mais ainda a autonomia universitária, foi impedida a intervenção militar preparada pelo governo tucano no campus da universidade, foi chamada a atenção sobre a situação da USP e ficou claro que há força entre os estudantes, professores e funcionários, para defender os interesses da universidade. O que não é pouco em tempos de grandes desmobilização – em particular da juventude -, de ataques sistemáticos às universidades públicas – veja a violenta ação da polícia em Araraquara -, de ideologia da privatização do ensino, de mídia que desqualifica tudo o que é público, de desvalorização das mobilizações e das lutas de massa diretas.
O ódio concentrado da direita e de seus porta-vozes, a ação totalitária da mídia contra a mobilização servem para confirmar como ela tocou em um ponto sensível do neoliberalismo – a autonomia das universidades públicas – e como incomoda ao coro uniforme dos papagaios bushistas na imprensa oligárquica. Saem derrotados, uma vez mais.
É assim que se combate ao neoliberalismo. Com um Congresso como o do MST, em Brasilia, com 18 mil participantes fazendo um balanço sério e profundo das lutas pela reforma agrária e elaborando novo plano político e de massas para dar seguimento a suas lutas –que são as de todo o Brasil – e com mobilizações como a de 50 dias na USP. A ação desinformadora da mídia oligopólica, o enfoque redutivo nos escândalos no Congresso, a desqualificação de tudo o que não seja neoliberal – saem derrotados dessas mobilizações. Querem demonstrar que as lutas não valem a pena, que estão derrotados de antemão, que não há força contra o poder do dinheiro e o do monopólio da palavra que pretendem exercer.
Quando as lutas unificam, fortalecem a confiança em todos de que governos prepotentes como o de São Paulo podem ser derrotados, que as mobilizações populares previsam ser revigoradas, com uma nova plataforma anti-neoliberal, que articule reivindicações dos mais amplos setores sociais, que concentre seus esforços na ruptura do modelo predominante e proponha não apenas objetivos, mas meios pelos quais chegar até eles.
O pós-neoliberalismo terá no fortalecimento da esfera pública um eixo fundamental de reorganização do Estado e de sua relação com a sociedade no seu conjunto. Nessa direção, a vitoriosa luta dos estudantes, funcionários e professores da USP pode ser um passo na construção da força social e política do movimento popular brasileiro.
Postado por Emir Sader às 13:11
Essa é uma ária da ópera "O Pescador de Pérolas", de Bizet. Uma das minhas favoritas árias. Linda, linda...
Dá para ouvir aqui, mas não é uma versão de ópera... Só achei essa.
"JE CROIS ENTENDRE ENCORE"
Je crois entendre encore
Caché sous les palmiers
Sa voix tendre et sonore
Comme un chant de ramiers.
Oh nuit enchanteresse
Divin ravissement
Oh souvenir charmant,
Folle ivresse, doux rêve!
Aux clartés des étoiles
Je crois encor la voir
Entr'ouvrir ses longs voiles
Aux vents tièdes du soir.
Oh nuit enchanteresse
Divin ravissement
Oh souvenir charmant
Folle ivresse, doux rêve!
Charmant Souvenir!
Charmant Souvenir!